Paulo Penisga 01 scaled
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Paulo Penisga 01

Não basta ver com bons olhos quando o progresso está doente. Já lá vai o tempo em que a natureza, em toda a sua exuberância e prodigalidade de recursos, foi suportando todo o tipo de desmandos e excessos em nome do avanço civilizacional.

A ideia de Progresso, definida e esclarecida no Século das Luzes, foi abrindo caminho ao necessário empreender humano de cidades e todo o tipo de infraestruturas, tais como estradas, pontes, viadutos, túneis, barragens e às diversas indústrias, das extrativas às transformadoras, enfim, tudo o que trouxe bem-estar e riqueza a algumas sociedades humanas.

Não todas, pois povos houve que foram trucidados na senda do progresso. Mas, como todos sabemos, de há décadas para cá estes modelos de desenvolvimento são questionados, com maior acuidade e gravidade nos últimos anos, devido às alterações climáticas, ameaças à biodiversidade e até ao nosso cómodo bem-estar. O progresso hoje está doente.

Pois bem, no nosso doce e meigo Algarve, onde a indústria que tudo alavanca é o Turismo, há quem teime em não compreender que não há mais espaço para a contínua e avassaladora expansão urbana e especulação imobiliária associada.

Mas como sempre o dinheiro fala mais alto, os famigerados projetos urbanísticos e turísticos avançam, bem escudados em estudos de impacte ambiental quando se trata de arrasar a natureza, ou na falsa filantropia do número de postos de trabalho que vão criar, como se estes promotores, alguns de passado duvidoso, fossem muito amigos dos trabalhadores e do ambiente.

Mas o que me causa mais estranheza é a falta de clareza e de frontalidade dos decisores políticos em muitas das suas tomadas de posição.

É o caso da posição do município de Silves em relação à criação da Reserva Natural da Lagoa dos Salgados, que vê com bons olhos, mas questiona o seu perímetro, considerando-o excessivo por impedir o crescimento urbano de Pêra e Armação de Pêra.

Mas Armação precisa de crescer?!?!…Talvez… mas não me parece que seja em densidade e concentração de edificações urbanas. E tem área para se expandir a norte, se necessário for. É algo dúbia a posição da Câmara Municipal de Silves ao considerar que o perímetro de classificação, «indo muito além da Ribeira de Alcantarilha, peca por excesso».

A proposta de classificação do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) abrange também campos e a zona de sapal Alcantarilha/Pêra, a qual ainda preserva, embora algo abandonada e pouco aproveitada, resquícios da paisagem e agricultura tradicional de sequeiro (figueiras, amendoeiras, vinha) que seria muito interessante valorizar.

É evidente que a vontade de muitos dos seus proprietários é a perspetiva do lucro fácil e imediato da transformação das suas terras em loteamentos urbanos.

Não há que ter pruridos políticos, pois o oportunismo versátil dos desapiedados promotores quase sempre ganha vantagem sobre a inércia e morosidade da administração pública.

Aguardemos a decisão do ministro do Ambiente, da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Algarve… mas qualquer autorização de construção, mesmo que sejam algumas centenas de camas e não os milhares inicialmente anunciados, será o princípio do fim e à semelhança da zona nascente da lagoa, no concelho limítrofe de Albufeira, teremos as dunas sulcadas de estradas alcatroadas e betão no horizonte a ofuscar a amplitude da baía de Pêra. E a praia grande tornar-se-á pequena no olhar dos passos em volta.

svg%3EPaulo Penisga 02Já basta a vergonha do que se passou nas Alagoas Brancas, no concelho de Lagoa, com Câmara Municipal a justificar a sua posição numa base jurídico-legalista, depois da decisão do Tribunal Administrativo, em vez de ter uma corajosa e firme vontade política na defesa da natureza e de um espaço natural que parece irremediavelmente condenado a dar lugar a mais um hipermercado.

O exemplo de boa res publica autárquica encontramos em Loulé e nas medidas preventivas tomadas no âmbito da revisão do Plano Diretor Municipal (PDM) que permitiram travar o avanço de investimentos que iriam pôr em causa o desenvolvimento sustentável do concelho, nomeadamente na zona nascente de Quarteira, onde decorre o processo de criação da Reserva Natural Local da foz das ribeiras do Almargem e Trafal.

Espero que em relação à Lagoa dos Salgados haja uma frontal e manifesta vontade política de preservar um dos últimos redutos lagunares costeiros no barlavento. Em política, perante determinadas situações, e ao contrário do que muitas vezes se diz, não pode haver conciliação de interesses.

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