A Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) e a Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) promovem anualmente uma iniciativa designada por Prémio Healthy Workplaces, que tem por objectivo “distinguir as empresas/organizações portuguesas que implementem projectos de boas práticas a nível da segurança, saúde e bem-estar no local de trabalho, com qualidade e inovação, e que, além de respeitarem as normas instituídas, representem um valor acrescentado para a empresa/organização e os seus trabalhadores, com reflexo directo na organização do trabalho e nas condições de segurança e saúde da organização”.
Este ano, uma das entidades que se candidataram, e que foi distinguida com o Selo Healthy Worplaces’22, foi a Guarda Nacional Republicana.
Não escondo que recebi com enorme surpresa a atribuição desta distinção, atendendo às frequentes notícias que dão conta de falta de recursos humanos e materiais na GNR, deficitárias instalações e escassa formação, nomeadamente na prática de tiro.
A surpresa é ainda maior quando há investigações realizadas a propósito da saúde psicológica dos militares, designadamente um recente estudo realizado no âmbito de uma parceria entre o Iscte – Instituto Universitário de Lisboa e a APG/GNR – Associação dos Profissionais da Guarda, que no primeiro relatório recentemente publicado sobre o estudo do burnout e os seus factores de risco e de protecção nos profissionais da GNR apontam conclusões preocupantes a este propósito.
Por outro lado, uma iniciativa numa área tão sensível como esta, promovida por duas entidades públicas como a OPP e a ACT, não pode deixar de ter em consideração a posição e opinião dos seus colaboradores, nomeadamente das associações profissionais que os representam.
Ora, a metodologia definida para a atribuição do Selo Healthy Workplaces parece assentar em bases frágeis e que, na verdade, podem criar percepções e transmitir mensagens pouco rigorosas.
Não é claro que esta distinção dependa da consulta e da recolha de opinião dos colaboradores das entidades candidatas e parece depender fundamentalmente de uma candidatura alicerçada num compromisso de honra da própria entidade, nos termos do qual declara cumprir um conjunto de requisitos. Na hipótese de os profissionais não terem sido ouvidos, e de não se reverem na distinção, não poderá uma iniciativa desta natureza não só estar a comprometer lutas válidas dos trabalhadores por melhores condições de trabalho como inclusive colocar em causa, ou até mesmo invalidar, as suas queixas e eventuais sentimentos de injustiça?
O que não deixa de causar estranheza também é a circunstância de duas entidades públicas atestarem que determinado local de trabalho promove o bem-estar dos seus colaboradores nem sempre se verificando uma visita presencial às entidades seleccionadas.
Fará sentido duas entidades públicas, a OPP e a ACT, atribuírem distinções seja em versão de selos de qualidade ou de prémios a outras entidades públicas sem que sejam, de forma clara e transparente, demonstrados e explicitados os critérios que levaram a tal distinção? A mim resta-me a pergunta: será a GNR um local de trabalho saudável? E, sobre esta, gostava de ouvir os próprios militares da GNR.
